Tears (should) stream
Down your face
When you lose something you cannot replace
Então, lá estavam eles. Ela estava nervosa. Ele era um exibicionista. Ela não fazia questão nenhuma de fazer grandes reflexões do porquê se encontravam lá naquele dia, naquela noite. Em resumo, eles estiveram juntos por algum tempo. Se amaram — pelo menos ela o amou. A vida os separou, mas não completamente. Nada fora superado. Ela tratou de lidar com as lembranças da maneira mais rápida e dolorosa possível. Como se tivesse ido a um parque e lá tivesse enterrado todos os bons momentos — e não foram poucos — na areia. Mas certos dias aquelas memórias se enchiam de tanto brilho e luz que ultrapassavam a areia rude que outrora as ofuscou. Iluminavam o parque inteiro mesmo que fosse de noite. E ela chorava. Mas por dentro, nunca por fora. Cascatas jorravam do seu coração, mas seus olhos eram mais fortes que os diques holandeses. Não deixavam escapar uma gota d’água. O que era para ser um resumo foi uma grande reflexão na cabeça de Valéria, que estava sendo interrompida.
– Você não vai tirar a roupa? – indagou Pierre.
– Tire você primeiro.
Foi tudo casual. Mas era a única chance de ter Pierre de volta — nem que fosse por alguns instantes.
– Quero ser sua esta noite.
– Só esta noite?
– Se dependesse de mim, seria para sempre. Você sabe – retrucou Valéria.
Silêncio. Ele tirou a blusa e eles começaram. Não estava sendo tão maravilhoso quanto esperara. Na verdade, ela não estava conseguindo nem ficar excitada. Mas o que a gente não faz por quem a gente ama? Mesmo por quem um dia já nos deixou.
As coisas estavam indo bem. Até que Valéria cometeu mais uma das suas várias burrices.
– Eu te amo.
As três palavras ecoaram por todos os objetos do quarto do motel. Criado-mudo, abajur, telefone, paredes, televisão, portas, tapetes e até na cara do Pierre, que respondeu sem jeito.
– Eu também.
Depois de uns 30 segundos, Pierre acendeu as luzes.
– Te enxergo melhor assim.
E eles continuaram fazendo amor sem amor. Até que toca o celular dele.
– Um minuto, ok?
Passaram-se vinte. E ele entrou no banheiro para falar em particular. Valéria se sentiu a pessoa mais burra, insossa e sem valor do mundo. “Nem com os caras que eu conheço há uma semana isso acontece”, pensou. “Eles nem atenderiam o celular.” Valéria foi mais burra ainda e escreveu um bilhete. “Vou dormir em casa. Beijos.” E foi embora. E, igual a todos os dias que passam, nutriu um ódio ainda maior pelo amor que sentia por quem já amou sem culpa. Foi dormir em casa, mas não conseguiu dormir. Olhou para o seu celular e não recebera nenhuma mensagem de “desculpa”. Fechou os olhos e tentou dormir de novo. Conseguiu — mas acordou cheirando a Pierre. E, de novo, não conseguiu chorar.
Fabrício Bernardes